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A experiencia mais assustadora da minha vida

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BrunoKopte's avatar
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    Eu já fui assaltado oito vezes. Evitei umas quatro outras. Todas foram durante o dia, eu chego a achar engraçado quando pessoas ficam preocupadas com ser mais perigoso de noite. Nenhuma delas foi a experiência mais assustadora. Especialmente aquela vez em que o assaltante me deu os meus tênis de volta, porque os dele estavam em melhor estado. Idiotice dele, aqueles tênis estavam tão gastos porque eram muito bons.

    Alguns meses atrás, eu fui atropelado perto de casa. Foi bastante leve para um atropelamento, eu me levantei logo em seguida, falei com o motorista, ele me levou pro pronto-socorro. Só tive dores e hematomas. Fiz raio-x e outros exames, nenhum dano maior. Quando alguém pergunta sobre as cicatrizes no meu pulso esquerdo, gosto de falar que o carro levou a pior, porque o retrovisor ficou todo quebrado.

    No começo do ano, tive que proteger uma mulher de um cachorro. E quando eu digo "proteger", eu quero é dizer que "eu estava apavorado de ficar entre o cachorro e ela, não tendo maneira alguma de enfrentar um cachorro exceto avançar de volta para tentar intimidar, o que foi o maior blefe que já fiz". Porra, eu estava até sem camiseta, porque a mulher precisava cobrir o ferimento dela. Foi mais um susto do que um perigo. Embora fosse um corte fundo feito pela pata do cachorro quando ele pulou nela, só cortou pele e gordura. Um pouco daquele tecido engraxado e amarelo ficou na minha camiseta, mas quase não teve sangue. Talvez tenha sido a experiência mais assustadora na vida dela, levando em consideração a maneira que ela ficou pálida, as pernas tremeram e ela quase desmaiou, mas não foi a minha.

    Quando eu tinha dezoito anos, o meu pai morreu de um ataque cardíaco fulminante. Eu cumprimentei ele saindo do quarto, ele fez alguma piada e foi escovar os dentes. Eu fui tomar café da manhã ou algo assim. Alguns segundos depois de ouvir uma batida, o meu irmão chamou por mim e a minha mãe. O meu pai tinha caído, com bolhas de pasta de dente na boca. Eu me lembro de esperar pela ambulância no meio da rua, no meio da chuva. Muitas memórias são confusas, mas eu lembro de ouvir sirenes várias vezes. Eu temia que a maneira como a nossa vizinhança era quase desconhecida podia resultar na ambulância ficar perdida, tentando achar o nosso endereço. De qualquer maneira, os paramédicos chegaram e tentaram o que podiam por 30 minutos. A coisa toda foi tão chocante que só senti o peso nas tripas uma semana depois, durante a janta. Nós percebemos que tínhamos colocado quatro pratos onde agora iriam três. A refeição parecia que tinha sido temperada com chumbo naquela noite. O processo de luto, foi, e é, surreal-deprimente-chocante-complicado-amargo, mas não a experiência mais assustadora da minha vida.

    Eu fiz estágio em um hospital psiquiátrico uma vez. Lá aprendi mais em três meses do que em quaisquer período de dois anos da minha vida, uma experiência tão boa quanto foi dramática e intensa. Quando eu fui à ala de uma paciente em uma cadeira de rodas para levá-la até a oficina de arte, eu vi uma mulher de pé. Eu não tenho certeza de alguns detalhes, se o que ficava na frente das genitais dela era a camiseta ou a grande barriga que ela tinha. De qualquer maneira, eu estava envergonhado, mesmo sabendo quanta privacidade os pacientes não tinham. Enquanto eu esperava pela paciente que eu fui buscar, alguém me contou sobre a mulher. A razão de ela ter uma barriga de sete meses não era uma criança, mas um tumor. O que também explicava os calombos, não era uma barriga lisa como em grávidas. os médicos já tinham marcado uma cirurgia para remover o tumor, mas ninguém parecia ter boas expectativas. Era o ressurgimento de um câncer antigo, ela já tinha passado por uma cirurgia antes. No entanto, ali era um hospital psiquiátrico. A razão dela estar lá há não sei quantos anos não era física, mas mental. Naquela sala, havia uma pessoa absolutamente alheia a tudo isso, com os olhos para baixo mas sem focar em nada. Era a própria mulher, que não percebia nada do que estava acontecendo consigo. Aqueles olhos vazios. Vê-los foi a experiência mais assustadora da minha vida.

Como o título diz, estou compartilhando uma experiência pessoal.


Qual foi a sua experiência mais assustadora?
Comments17
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qbabu's avatar
Nossa, quanta coisa... Duas perguntinhas básicas, rs: O que te levou a contar estas experiencias, e qual das três foi a mais impactante? Imagino que seja a memória de seu pai =(

Bem, eu tive duas experiencias ruins, a primeira irei resumir porque nao gosto muito de falar nesse assunto.

Eu já fui meio que "sequestrada", juntamente com meu namorado... Tinhamos brigado, e ele veio de carro até minha casa pra tentar falar comigo. Ao sair de casa e entrar no carro pra conversarmos, dois assaltantes apareceram, um deles estava armado. Entraram no carro e nos levaram junto. Nos largaram proximo ao inicio da BR, num local conhecido como desova... Felizmente, nao nos fizeram nada, até hoje não acredito nisso. Foi uma junção de fatores: a cidade estava deserta, teve greve dos rodoviarios e era tarde da noite. Já deve ter um ou dois anos que aconteceu isso =(

A segunda situaçao foi bem recente. Eu e uma colega fomos visitar uma amiga. Estavam conversando e comendo quando uma vizinha apareceu na porta, pedindo ajuda. Ela nos disse que seu marido estava caído na sala, parecia estar morto. Ela trabalhou o dia inteiro, estava chegando em casa naquela hora. Pediu que alguem subisse com ela, pra averiguar se realmente estava morto. Minhas duas amigas não tiveram coragem, então eu fui. Eu sou medrosa, mas entendo que é melhor enfrentar nosso medos. Eu fui e constatei que ele estava realmente morto, acho que tinha morrido de infarto. Não cheguei a tocá-lo, somente olhei. depois chamaram ajuda. Isso meio que me fez ter crise de existência,rs. O homem morreu muito jovem, tinha somente uns 50 anos (eu acho jovem). A morte é imprevisivel demais, não sabemos quando será a nossa hora, então cada momento deveria ser valioso, e na verdade não valorizamos.

As vezes achamos que passamos por experiencia muito, mas muitos ruins... Pra nós mesmos pode ater ser, mas acredito que existam casos piores.