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A ROSEIRA

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      Spine2 by BrunoKopteSpine by BrunoKopte


    Tinha acabado de matar o gigante que me atacara com uma clava feita de um canhão nortenho rachado, gastando a última poção logo após. Alguém havia dito que os clarões no horizonte eram Diveus cauterizando os olhos de Trumuskerra, mas não sei se é verdade. Na hora só pensei em como estava com fome e sede e cansada. Por falta de campo aberto, as legiões estavam lutando a pé, nossas montarias seguras nas adegas, defendidas por falanges anãs engalfinhadas com goblins tentando destruir as raízes de Sycamore por baixo. Eu lutava no topo das raízes, tentando impedir que os invasores as queimassem. Mesmo se isso não derrubasse a cidade, a fumaça poderia asfixiar os habitantes e refugiados nos distritos na copa da figueira gigante. Os arqueiros élficos tinham a vantagem da altura, mas os komatai retaliavam com balistas, impedindo qualquer ação além de ataques esporádicos.

    Após oito meses de cerco, tínhamos um último plano, a tática da Garra de Uraçu. Algumas construções seriam desabadas, seguido de disparos contra os comandantes inimigos. A ideia era desorientar os goblinoides, permitindo uma investida montada. Minha tropa seria parte da vanguarda, abrindo o caminho para o restante das legiões. Assim que instauraram a confusão, avançamos raiz abaixo em formação de cunha. Os goblinoides são guerreiros naturais, mas indisciplinados mesmo em condições favoráveis. Lembro que um minotauro de quatro chifres reforçados correu de cabeça baixa em nossa direção, urrou algo incompreensível mas igualmente ofensivo, percebeu que estava sozinho, parou incrédulo, olhou para trás e foi pisoteado por nossas montarias. Morreu confuso. Aí começou a chuva de flechas, respingos de metal estalando nas nossas armaduras. Gritamos "Dégustez notre élan!", e nos arremetemos à horda. Conseguimos traspassá-la logo na primeira carga, mas então veio a parte difícil. Tínhamos que manter a brecha para que a coluna principal pudesse passar.

    Na cavalaria sycamoriana, ainda nos ensinam a usar lanças médias sobre o ombro para corpo-a-corpo entre tropas montadas e infantaria. Ótimo, porque quando minha lança quebrou, só resmunguei, girei meu braço para cima e usei o contrapeso, quase tão afiado quanto a lamina, para alfinetar os infelizes que tentavam cortar os meus pés. Anos de prática resumidos em uma hora de reflexos mecanizados, desviar ou cortar, cortar ou desviar. Eu me via pensando em quantos pontos de dor eu sentia, e quais incluíam uma flecha roendo minha carne, se as gotas escorrendo pela minha espinha eram de suor, sangue ou ambos. Um desgraçado tentou remover uma azagaia cravada no lombo da minha montaria, mas os cascos irritados da minha égua o deixaram engasgado com um pedaço de ferradura para sempre. Girei para evitar novas surpresas, e só enxerguei um carretel de morte e gritos de dor. O que eu ouvia era igualmente solitário. Eu me lembrei da história do comandante discursando no escuro para manter suas tropas unidas, e resolvi tentar o mesmo. Comecei o hino de Sycamore, e no segundo verso, já não cantava mais sozinha.

    Enquanto ganhávamos tempo, os demais galoparam por todo o redor dos sitiantes, escaramuçando, destruindo suprimentos, investindo em retaguardas desprevenidas. Eu temia que a disposição dos goblinoides nunca fosse ceder, até que pânico aqui e ali se espalhou tão rapidamente que pareceu uma represa estourando covardes e desertores em todas as direções. Depois seguiram algumas horas de perseguições, destruição de acampamentos e obras de cerco, resgate de prisioneiros, contra-pilhagem. Eu não estava em condições de participar, devido a uma flecha alojada no meu tapa-olho; se ele não fosse reforçado, teria perfurado meu crânio, o que teria atrapalhado meu dia, e avoir d'autres chats à fouetter. Na revista de prisioneiros pós-batalha, o komatai que fez isso se identificou, Kafnius, clamando que minha bravura o fez mirar na minha cabeça para que minha alma não ficasse presa dentro dela após minha morte. Típica bobagem bárbara. Assim que deixei o hospital de campo, fiz questão de recrutá-lo como vigia noturno para a legião, não se desperdiça uma mira boa assim em trabalhos forçados.

-Testemunho de Lorella D'Martel Scavélle, centuriã da Legio Quinta Sycamoria Victrix, em 1412. Sua alcunha, “A Roseira”, lhe foi concedida após o cerco de Sycamore, a capital de Sycamore e mais antiga das figueiras gigantes feidralin em todo o império, na batalha de desfecho da Guerra das Revanches de 1399-1402. Durante a carga decisiva, seus catafractários resistiram a milhares de projéteis. Após a batalha, Scavélle e sua montaria possuíam não menos que trezentos e vinte flechas, azagaias e dardos cravados em suas armaduras, e mais alguns que haviam penetrado na carne. Desde então, ela e os cavaleiros e montarias de sua ordem de origem, os Gendarme Belliqueuse, portam armaduras repletas de espigões, estilizados como espinhos em um alto-relevo de ramos prateados.


Uma pequena amostra da minha escrita, ambientada em um mundo de fantasia caseiro, sendo criado por mim e meu amigo. A elfa Lorella, centuriã da Quinta Legião Imperial, depõe sobre como o fim do cerco a Sycamore, sua cidade natal, lhe rendeu a alcunha de "A Roseira".

Guia do cenário Atma

Desenho de Lorella feito por Navagonz, disponível aqui.
© 2015 - 2024 BrunoKopte
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